O
Alinea acabou de ganhar a sua terceira estrela do guia Michelin, sendo o único restaurante de Chicago com essa classificação. No guia original 3 estrelas significavam: comida de altíssima qualidade, que vale uma viagem apenas para conhecer o restaurante. Vale? Vale cada quilômetro.
O chef Grant Achatz é um dos chefes mais inventivos dos Estados Unidos e serve uma comida refinada muito moderna. Reservas são essenciais e devem ser feitas por telefone com mais ou menos 3 meses de antecedência.
O restaurante fica localizado numa área mais afatada do centro em uma casa escura com uma vizinhança pouco movimentada. O corredor de entrada do restaurante é preenchido por uma luz púrpura que já coloca você no espírito da experiência. No final uma porta automática se abre para dar acesso ao restaurante muito bem decorado, minimalista, com iluminação indireta e sem toalha sobre as mesas de madeira escura. Atendimento impecável, atencioso e cortês (típico de um restaurante 3 estrelas) com uma média de 6 pessoas atendendo e servindo apenas 4 mesas.
Não existe cardápio, é servido apenas o menu degustação que varia de acordo com a estação do ano. Os pratos podem consistir de bocadas (uma mordida apenas) ou porções mais substanciais. Os garçons explicam os ingredientes e o preparo de cada prato quando este é servido e, se você faz alguma pergunta que ele não saiba responder, em poucos minutos retorna com a resposta do chef sobre o preparo ou o ingrediente.
A sucessão de pratos combina texturas, sabores e aromas de uma maneira surpreendente e você percebe bem o trabalho e cuidado gastos no preparo. Técnicas inventivas são uma costante, dentre elas a mais surpreendente foi um balão comestível inflado com hélio aromatizado sabor maçã verde. Entrarei em detalhe nos pratos mais à frente.
Óbvio que tudo isso custa dinheiro mas, vale à pena? Depende do quanto você gosta e a importância que uma experiência dessas tem pra você. Pra mim valeu. E muito.
Vou postar algumas fotos com comentários - estão escuras porque a iluminação era fraca e não podia usar flash.
Foto 1: Menu - a cada prato é atribuído um círculo. O tamanho do círculo indica a quantidade de comida servida - quanto mais para direita mais doce é o prato, consequentemente quanto mais para esquerda mais salgado. Dá pra observar bem que existe uma alternância para não cansar o paladar.
Foto 2: Um coral coberto de algas exalando cheiro do mar com quatro mariacos cada um com um preparo diferente. Sendo que um deles, na verdade, era uma folha de lima kaffir preparada de maneira a ter todo o gosto de um curry tailandêa com ostra, mas sem ostra nenhuma. Impressionante.
Foto 3: uma mousse de vieiras cozida de maneira a ficar com consistência de tofu mole e servido como um agadashi tofu - empanado e servido com um dashi que é preparado na própria mesa usando um destilador.
Foto 4: desde o início fica na mesa uma pedra de gelo enorme com um túnel preenchido por um líquido roxo. Ele fica lá até que o garçon traz uma canudo de vidro pra aspirar uma sopa de beterraba muito parecida com um borsch.
Foto 5: o mais legal desse prato é que ele é servido sobre um travesseiro. Dentro do travesseiro tem uma bolsa recheada de ar que vai esvazia com o peso do prato e liberando um aroma defumado de pinho e outras madeiras.
Foto 6: explosão de trufa - um raviolo recheado de caldo de trufas que, literalmente, explode dentro da boca. Sensacional.
Foto 7: degustação de gengibre - 5 tipos de gengibre diferentes cada um preparado de maneira diferente.
Foto 8: esse era parte de uma das sobremesas. Parece água, mas na verdade é um destilação de chocolate quente. Tem todo o gosto de chocolate mas é transparente como água!
Foto 9: esse foi muito legal! Era um balão comestível que vinha flutuando mesmo! O fio era maça desidratada, o balão era um toffee de maçã e o ar era hélio aromatizado de maçã. Depois de tudo, você ainda fica falando com a voz fina :) Genial!
Foto 10: última sobremesa - o chef vem à mesa e “pinta” um quadro no estilo Pollock, enquanto nitrogênio líquido é derramado dentro de uma esfera de chocolate. No final ele quebra a bola que revela tudo que estava dentro, como aqueles vasos que são quebrados nas festas de São João. Muito mais interessante pelo mis en cene do que pelo gosto.